GAIA

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

ENTRE O MENINO JESUS E O PAPAI NOEL

Em que lugar,hoje,Maria e José obteriam acolhida para o parto iminente do filho esperado?Se estivesse nascendo agora,com qual criança mais se assemelharia o menino Jesus?
Às vésperas do seu aniversário,parece de todo oportuno procurar-se responder tais perguntas,já que o natal é a celebração de um nascimento que mudou a história da humanidade toda.Pela sua conhecida pobreza,a mãe o pai procurariam,quem sabe,a emergência de algum hospital que atenda pelo SUS.Anciosos,são recebidos no balcão de informação,em meio a um grupo grande de gente doente e triste,cabeça baixa,esperando chamada,com uma senha na mão.
Começa,mais de dois mil anos depois,a história desculpa: Não,lamentamos,vocês terão de procurar outro hospital.Vejam que até os nossos corredores estão lotados.Não temos um leito,sequer,disponível,nem médicos e enfermeiros suficientes para tanta gente.
Sem dinheiro que,como se sabe,dificilmente deixa de abrir qualquer porta,batem na sacristia de uma igreja.Não,aqui não se pode hospedar ninguém.A gente batiza,reza missa todos os domingos, faz a catequese da primeira eucaristia,celebra casamentos,exéquias,uma vez por mês reunimos a comunidade num almoço.É verdade que temos hospitais,também,mas eles são obrigados a cobrar internações porque os subsídios públicos nunca chegam em dia e os atrasos estão levando todos eles à falência.
A preocupação e a angustia crescendo,José meio desesperado,Maria sentindo as primeiras contrações,resolvem tomar rumo da periferia,quem sabe em algum galpão abandonado,a mulher consiga parir,quando menos,a abriga-la.
Lua que se acende e paga no andar das nuvens,por ela conseguem entrever algumas luzes,ouvir algumas vozes numa corrente de barracas de lona preta estendida na beira da estrada,denunciado pelo latido dos cachorros,chegam muito envergonhados numa delas,um casal tão pobre como os recém chegados,levanta o candieiro para identificá-los e pede para eles entrarem imediatamente,pois já advinhou que a urgência não admite outro gesto.Maria já sem tempo,consegue se deitar num acolchoado velho que,no chão da barraca,serve de cama para o casal.Três crianças,duas meninas e um menino,dormem profundamente.
Os visitantes mal conseguem se apresentar."Eu sou Laurindo,prazer"."Eu sou Joana,prazer".Juntamente com José,passam a se movimentar ligeiro,como se tivessem brazas que já estavam agonizando,num fogo de chão,achegam gravetos que sobraram do uso anterior que cozinhou só feijão.A fumaça toma conta do ambiente e faz arder os olhos de quem espera,agora,numa ansiedade do tipo que afaga.A mulher conseguiu ferver água e escaldar uma faca de cozinha,à vista de Maria,mal coberta por um lençol surpreendentemente limpo que muma vizinha,avisada do caso lhe alcançou.O homenzinho se livrou do ventre materno,separado pela faca de dona Joana,a um choro alto e forte,de quem sorve o primeiro ar e reclama a primeira mamada.
Uma alegria aliviada se desata,se apossa de todos.Os ocupantes das outras barracas,tudo gente sem-terra,sem-teto,que também ainda não encontrou lugar para ficar,como o pai e a mãe do récem nasciddo,acorrem pressurosos em ajudar,Laurindo e Joana,honrados Maria e José confortados,há um que de solidariedade amorosa,feita de palavras e gestos,todo o mundo querendo repartir o pouco que tem com o casal de viajantes que festeja a chegada do primeiro filho.
No outro lado da cidade,muito longe dali,um foguetório faz-se ouvir,a noite se enche de sons,risos,as ruas,as árvores e os edifícios cobertos por milhares de pequenas lâmpadas coloridas,piscando,são cercados por gente ou troca de presentes,se abraça,anda atrás de um papai noel arquejante,vermelho na roupa e no rosto,o cabelo e a barba branca artificialmente.
Comparadas essas pessoas,comparados esses lugares,será aqui,ou lá,que o menino Jesus nasceria hoje? entre a pobreza ea escassez de lá,ou a fartura e até o desperdício daqui? por tudo que a criança viveu e ensinou depois,soube-se que ela acabou sendo perseguida,tanto pelo poder político,como pelo econômico e,até,religioso,acabou morrendo numa cruz,resultado de um julgamento no qual nem o direito de defesa lhe foi garantido.
A semelhança do seu nascimento e da vida com o nascimento numa barraca e aluta que empeendeu depois em favor dos pobres,não nos deixa duvidar de que hoje como ontem,são milhares as crianças que nascem nas condições miseráveis nas quais nasceu o menino Jesus,então,há uma distância que beira às coisas,às mercadorias,aos símbolos do consumo,do que às pessoas,aquelas que conosco vivem,especialmente as que como tal crianças,é necessitada e pobre.
Em vez de andar atrás de um velho ridículo,então,o natal nos convida mesmo é a descer esse povo da cruz,incorporar o seu sofrimento,servindo-o ao ponto de enxugar-lhes os pés,assim seguindo o exemplo de quem nasceu,viveu,amou e morreu por ele.

Fonte: CEBI

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